Terrorismo nutricional é o termo que a gente usa aqui no Brasil para descrever a disseminação de informações sensacionalistas ou muitas vezes até mentirosas sobre alimentação que acabam gerando medo, ansiedade ou culpa em relação aos alimentos que uma pessoa come.
Hoje no Brasil e no mundo, a gente tem muitas crenças em relação aos alimentos que acabam criando aquela ideia de tem alimento que só faz bem e outros que só fazem mal, não levando em consideração qual a quantidade, combinação, frequência e contexto em que ele foi consumido. Isso vai gerando uma série de regras e ideia de demonização de alguns alimento que mais atrapalham a população do que ajudam.
O cientista Gyorgy Scrinis inventou o termo nutricionismo, que é a fusão de nutrição com reducionismo, ou seja, uma ênfase reducionista nos nutrientes de determinado alimento para categoriza-lo como bom ou ruim, e assim recomendar ou demonizar seu consumo.
Esse reducionismo nutricional é caracterizado por uma ênfase redutiva na composição nutricional dos alimentos como forma de identificar o quanto eles são saudáveis, e por uma interpretação redutora do papel de tais nutrientes na saúde corporal.
E acho importante dizermos que a questão não é invalidar as informações valiosas que a ciência produziu sobre as relações entre os nutrientes, os alimentos e o corpo, mas perceber que essas informações foram frequentemente interpretadas de forma reducionista e traduzidas em diretrizes dietéticas igualmente reducionistas, em um processo de descontextualização, simplificação e exagero do papel dos nutrientes como determinantes da saúde corporal.
Obviamente, o excesso de alguns alimentos ricos em açúcar, gordura e sal ou com muitos aditivos alimentares (chamados de ultraprocessados) e que são hiperpalatáveis podem ser muito prejudiciais a saúde. Fazer boas escolhas e preparar receitas mais equilibradas é essencial no processo de cuidado com a saúde e por isso é tão importante buscar um profissional da área da nutrição, que tenha conhecimento técnico, científico e principalmente conhecimento sobre comportamento alimentar para te ajudar a entender o que faz sentido para você, nesse momento da sua vida.
O terrorismo nutricional pode bombardear as pessoas no dia a dia de maneiras sutis e frequentemente imperceptíveis.
É um comentário de um amigo ou parente, é uma corrente que as pessoas passam no whatsapp sem conferir a veracidade e principalmente nas redes sociais. Quantos posts nas redes sociais que usam títulos sensacionalistas para atrair a atenção ou até mesmo para vender produtos, que colocam determinados alimentos ou nutrientes como "milagrosos" ou "venenosos"?
Essas tendências podem ser difundidas por influenciadores, celebridades ou perfis de "bem-estar", muitas vezes sem respaldo científico sólido. Acho importante a gente desenvolver o pensamento crítico sobre isso. Se existissem soluções tão simples como parecem, por que seria tão difícil solucionar tantas questões de saúde que vemos por aí?
Hoje a informação circula muito rápido e atinge pessoas de todas as idades. Existe muita informação incompleta que vai se disseminando. E a gente não pode esquecer que os seres humanos são diferentes entre si, e o que muitas vezes acontecem nesse terrorismo nutricional, é a generalização como se tudo fosse igual para todo mundo. Por exemplo, posts de "antes e depois" também podem entrar nesse terrorismo nutricional porque podem criar expectativas irrealistas em relação ao emagrecimento rápido, desconsiderando os diversos fatores que existem para que aquele resultado fosse atingido.
Parte do que alimenta muito esse terrorismo nutricional é um padrão de beleza que não tem como ser igual para todos. Imagens e mensagens que promovem um ideal inatingível de corpo "perfeito" podem levar a uma pressão excessiva para atender a padrões estéticos irreais, resultando em insatisfação corporal e comportamentos alimentares prejudiciais.
Outra coisa comum de vermos em redes sociais é a associação de celebridades a produtos ou dietas específicas, isso pode gerar uma falsa sensação de que está certa, que é confiável, mesmo que a base científica seja questionável.
Posts nas redes sociais muitas vezes fornecem informações isoladas, fora de contexto, que não levam em consideração o quadro completo de saúde e nutrição.
Antigamente as informações estavam nas revistas e jornais ou televisão. Então tinhamos que ir atrás dessas informações. Hoje nas redes sociais existem os algoritmos que mostram mais do que você já se interessou (só o fato de parar para ver o video, ele já entende que você gostou, independemente de vc ter dado um like ou não.
Para se proteger do terrorismo nutricional nas redes sociais, é importante cultivar o pensamento crítico, buscar fontes confiáveis e respaldadas por evidências, seguir profissionais de saúde qualificados e manter um equilíbrio saudável entre o tempo gasto nas redes sociais e outras atividades da vida.
Confira abaixo a matéria Matéria do Domingo Espetacular, da Record, de 21/08/2023, que teve a minha contribuição
Você sabe o que é “terrorismo nutricional”? Uma polêmica entre o nutricionista e marido de Ivete Sangalo, Daniel Cady, e a influenciadora Maíra Cardi trouxe à tona esse termo. Daniel postou um vídeo desmentindo a associação que Maíra tinha feito entre um bolo de chocolate e possíveis doenças, o que resultou em um bate-boca virtual e descambou para ofensas mais pessoais.
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